O culto da Deusa Mãe (também denominada de Mãe Terra) terá as suas origens na Pré-história. Representa uma divindade feminina, a mulher fértil, em consonância com o povoamento da Terra e os ciclos produtivos desta. É um culto à Mulher que pare os seus filhos e, paralelamente, à Terra que, das suas entranhas, os alimenta. Os povos curvam-se à sua imagem, adoram-na, clamam por ela: Reia para os gregos ou Cibele para os romanos identificam a mesma Mãe, a mesma Mulher procriadora, que enche as aldeias, que as fortalece e lhes dá esperança.
Os tempos mudam, os exércitos conquistam, as cidades crescem e as deusas recebem os devidos cultos. Agora são belas, voltadas para o amor. A cultura grega ajoelha perante Afrodite, a romana inclina-se a Vénus, a africana homenageia Óxum.
Mas os guerreiros, os estadistas e os supremos das religiões tanto adoram as suas belas deusas, que personificam as mulheres terrenas, como oferecem estas, as virgens, em sacrifícios ao seu deus mais temido, mais exigente de sangue.
Aparte deusas e sacerdotisas (com dois ou mais braços) e, enquanto os anos avançam, a mente humana não muda muito os seus propósitos de punir a Mulher, como expiação dos seus pecados! Nascer mulher é já em si um mal maior: insinua o desejo carnal, simboliza a tentação do demónio! – Gritam os ministros das leis divinas!"Reza minha filha para que a tua beleza se apague depressa!" São comuns os apedrejamentos selvagens para castigar delitos apontadas, apenas, a elas. Depois, são torturadas em máquinas diabólicas, são esticadas, desventradas, afogadas, queimadas. Basta conhecer umas ervas curativas ou carregar no corpo um sinalzito, liso ou encabelado, para que lhe seja apontada a inevitável visita de Satanás: "é necessária uma purificação pelo fogo!" Tudo concretizado por uns poucos denominados agentes do senhor, eleitos para travar o avanço do Maldito. No fim, depois de organizar a limpeza de ferros e grilhões, vão ganhar calo a ajoelhar aos pés de Jesus crucificado, que muito pregou o amor, e de Maria, por eles considerada Deusa Mãe, ou não teriam erguido em Seu nome tantos santuários!
Mas as mulheres sobrevivem e vencem. E fazem coisas tão banais, mas tão criticáveis por uma sociedade, que custou a aceitar um simples corte de cabelo, ou o abandono do lenço na cabeça, mais recentemente rendilhado e transparente - hoje, e muito bem, esta mesma sociedade vê muito mal a obrigação de panos a cobrir as mulheres islamitas, que ainda não se livraram dos preconceitos religiosos. E, com grande coragem, começam a usar calças, indiferentes às observações das amigas, das sogras e das outras que, por enquanto, não se atreveram a tal coisa e sempre vão comentando: “pensei que fulana era mais séria”! Os rolos nos cabelos são mais tolerados. E a pasta no bigode! Ah, que engraçada era a expressão do irmãozito a olhar a vermelhidão e as borbulhas: "se calhar a coitada pôs mostarda a mais no bife"! Mas olhando bem: "e aquela coisa branca em volta dos olhos! Nem pestanejam!" E não vale a pena tentar falar com ela, porque não haverá resposta, ou cai por terra o trabalho da pintura de lábios: "coitada, sempre de boca aberta!"
Agora é tudo muito mais simples: as mulheres frequentam amiúde os salões de beleza e sujeitam-se a coisas estranhíssimas; por vezes ficam sentadas horas debaixo dum capacete mais esquisito que os dos astronautas! Mas que saem de lá mais belas, lá isso saem! E até começam a exigir que os companheiros também façam coisas, como depilações, algumas em zonas que, só de pensar, causa arrepios! Vão ao ginásio bufar um bocado e não esquecem as braçadas na piscina. E não é raro perguntar-se à sogra pela nora, porque ultimamente não se lhe tem posto a vista em cima, e obter respostas como esta: "a minha nora agora chega sempre muito tarde, sabe; trabalha muito e, depois, ora vai ao ginásio pegar nuns pesos, ora vai lavar o cu à piscina!"
São, as nossas mulheres de hoje, mais belas, mais atrevidas, mais conscientes da vida como ela é, ou deverá ser. Exigem delas e exigem deles: seja na divisão de algumas tarefas caseiras, seja nos assuntos sexuais, de que já não fazem tabu. E até vão dando uma ajudinha aos mais necessitados, com lingeries transparentes, vermelhas, reduzidas a um fio; por vezes com gestos que outrora seriam impensáveis numa senhora honrada. As mais velhinhas ainda não aceitam isto. Ainda é comum ouvir-se: "oh meu filho, o falecido nunca me viu"! E terá alguma razão, porque o dito trabalhava no duro, jantava o pouco que havia, ia até à venda do ti João, jogava à bisca, bebia mais dois copos, contava uma anedota e ouvia outras e, quando chegava a casa alegrote e bem-disposto, pensava apenas, e sem perda de muito tempo, soltar um cabeçudo enrabichado – entre os bastantes, o mais atrevidote. Daria, assim, razão ao padre-cura que, em todos os Domingos, sempre pregava em alto e bom som: "os filhos são a nossa maior alegria"